Noite de eletrónica analógica. Aparelhos científicos e eletro-acústicos a paginar o reencontro após muitos anos considerados obsoletos. Vi os Langham Research Centre há cerca de uma década no Kings Place. Penso que tocaram composições de John Cage com rádios e voz. Lembro-me das máquinas de fita e do uniforme engravatado, uma espécie de cruzamento entre os Beatles e os Kraftwerk. Beatriz Ferreyra fez parte do Groupe de Recherches Musicales (GRM) fundado por Pierre Schaefer, compositor singular no mundo das electrónicas, mais especificamente da música concreta. Para não entrar em profundidades da dicotomia entre a música eletrónica e a música concreta, fiquemos pela abrangente música electro-acústica.
Estava à espera de sintetizadores monstruosos e bobines, mas eram mesas de mistura pequenas, leitores de cassetes e rádios. Isto vai ao encontro das minhas fugas ao aparato, na busca da simplicidade de pequenos aparelhos e sons simples. Agora que o mundo anda num show off de imensos apetrechos, estes, os pioneiros, mostram que isso já passou. Estava curioso com a quantidade de colunas espalhadas pela sala. Espera uma espacialidade minuciosa.
Foram duas peças distintas. A primeira, Ecos, mais curta, foi uma experiência muito Gesang der Junglinge de Stockhausen, com multitudes na espacialidade da sala. A segunda, um pouco mais cinemática, muito design sonora de filme de ficção científica, soou a uma intensa distopia. Ferreyra estava no lugar do técnico de som. Puro controlo de espacialidade sem performance à vista. A dar ideias para outras direções e experiências, muito mais desligadas da realidade. Composições que apenas podem ser experienciadas em lugares assim, abertos.
Os Langham Research Centre deixam tudo no pormenor dos sons mais mundanos e impregnam a paisagem sonora de paragens abruptas com um ritmo de relógio dormente. Seguem uma rota desenhada por John Cage onde as composições apenas gotejam numa pronúncia linear. São cientistas dos sons e dos brinquedos electrónicos. É a música concreta de quem navega e perturba a incandescência da matéria. Entre estas palavras-cruzadas sónicas, reencontro um rumo adormecido: as palavras, a música concreta, a essência das marés.
Há uma estranha dispersão do público a bloquear todas as passagens. Deixam-se ficar parados em trajetos assimilados. Parecem imperturbáveis.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
Labels
108 meditations
1978
1989
1994
75 dollar bill
90s
abbey road
alexandra spence
ambiente
angelo badalamenti
angharad davies
banana
barcelos
brian eno
bridget st john
cafe oto
chris rainer
damon & naomi
david grubbs
david lynch
deep listening
digital
directions
drone
ecka mordecai
editions eg
emma tricca
ensaios
eraserhead
erik satie
eyes of the amaryllis
fita magnética
folk
fonógrafo
fred frith
gavin bryars
gibrana cervantes
gigs
gramofone
harry partch
improv
industrial symphony
infant tree
jan st werner
julee cruise
jules reidy
krake
lankum
laura agnusdei
lisbon story
longplayer
looping
luciano maggiore
lucy railton
madredeus
meditations
michael gira
michiko ogawa
mike cooper
modern nature
mosquito farm
mp hopkins
música concreta
new albion
panaiotis
pat thomas
pauline oliveros
pierre schaeffer
pullman
rafael anton irisarri
ratere
richard youngs
robert fripp
rory salter
rump state
shane macgowan
stars of the lid
steve reich
stuart dempster
suono grasso
susana santos silva
swans
taku sugimoto
tecnologia
tellkujira
terry riley
the beatles
the pogues
tim hill
tom waits
tortoise
twin peaks
ute kanngiesser
valentina magaletti
william basinski
wim wenders
No comments:
Post a Comment