Parte 1
Taku Sugimoto e Angharad Davies. Há entre eles um diálogo de minimalismos. Conversa contida. Pausas. Ouve-se um choro de bebé (não é comum ouvir um choro de bebé no café Oto a esta hora) e há um eterno momento de Moondog a figurar no princípio do mundo dos harmónicos. As peculiaridades de Angharad Davies são o complemento fundamental para a paixão evidente de Sugimoto pelos harmónicos. É uma guitarra propícia a sons orgânicos e acústicos. E o silêncio da sala perfura os momentos para nos fazer viajar um pouco. A música improvisada, nestes moldes, transfigura-se na dimensão ambiental que nos faz esquecer o lugar, o espaço, o tempo e a idade. Ficamos por uma pontuação livre, na intensa consciência de que podemos estar perto de uma poesia que não conseguimos ler.Parte 2
Os Eyes of the Amaryllis foram das coisas mais pegajosas que eu vi no café Oto. Experiências sónicas inconsequentes, uma mistela lamacenta de pretenciosismo artístico. Não foram precisos mais de dois minutos para perceber que nada, mesmo nada, iria sair dali. Nenhum som significativo, nenhum gesto profundo. Simplesmente aquela planície sonora de merdices e figuras de estilo sem estilo.
Parte 3
Tudo parece frágil e vulnerável. Há silêncio, há o ruído do café, há som de copos e da madeira das cadeiras desconchavadas. Taku Sugimoto reduz tudo ao mínimo: trinta minutos de arco numa guitarra parada, dissonâncias, um fio de som que parece sustentar o mundo inteiro e tudo aquilo que não é possível ser dito com palavras.
(Há um pacóvio da outra banda a comer bananas, sentado na cadeira errada, demasiado do lado do "palco")
Parece ser libertador poder tocar guitarra desta forma, sem ansiedade, sem qualquer tentativa de preencher o espaço e as ansiedades dos outros. O silêncio, neste lugar, neste contexto, torna-se o bem fundamental. Sugimoto não procura o alcance especial das dinâmicas, nem os truques dos artistas que querem falar alto. Concentra-se na afinação da guitarra. Esquece o arco electrónico que tinha pousado em cima da cadeira. O set são apenas variações de um arco orgânico, a enternecer os pensamentos fugidios. Mais uma vez vem a ideia da música improvisada a diluir-se no éter, transfigurada na música ambiental mais pura, desintegrando-se aos poucos para um final imprevisível. Parece que se desligaram as luzes. Tão somente isso.
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