12.3.24

Rafael Anton Irisarri + Gibrana Cervantes @ Cafe Oto 11.03.2024

Eu não sei se comungo na mesma paróquia dos ambientalistas do ruído. As camadas sobrepõem-se umas às outras numa espécie de feedback de loop lento e culminam invariavelmente na apoteose da densidade onde as frequências se excitam umas às outras. Há nisto uma pretensa exploração da "fisicalidade" do som que nos faz experienciar frequências com o corpo. Todo o esqueleto vibra com dois ampegs acesos e a falta de direção das frequências mais graves deixa-nos à deriva, naquele estado de terror sónico de uma explosão contínua. A guitarra transfigura-se com um arco, mas estas paisagens não são plácidas. Há um desequilíbrio de medo e uma óbvia ausência de referências. O pior disto são as âncoras. É que a partir de uma certa altura, não existe forma de mudar a direção inventiva. A única solução é terminar no ponto em que se começa a descida lenta. Depois, quando o terramoto chega ao fim, não existe um paraíso. Sabemos que regressa. O mesmo epicentro e a mesma não-musicalidade de sempre. Se isto é o lado negro desta textura, então dêem-me a lentidão do Eno e os pormenores do Budd. Eu gostava de ver mais vulnerabilidade no palco. Esta tendência para a proteção sónica é somente uma sobreposição digna de contrariedade. No final, o improviso deixa um travo de vazio entre o Irisarri e a Cervantes.

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