Num daqueles momentos de bar inexplicáveis, as pessoas começaram a falar mais baixo, gerando-se aquela dinâmica em que um silêncio arrasta o outro. À espera. À espera da hora. E alguém grita do bar: "keep chatting!" Ainda não há sinais de músicos. Lá fora, no quadro preto de ardósia diz "Moore & Jones" e eu penso que estou a ser perspicaz ao achar que o convidado especial é o John Paul Jones porque está ali o baixo dele, assim como um portátil e dois iPads, exatamente o que ele usou com os Minibus Pimps há uns bons 10 anos aqui nesta mesma sala. Não há dúvidas.
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Estamos no intervalo. A dupla maravilha incendiou a memória com explosões sónicas de uma juventude longínqua. O JPJ era um daquela mitos dos rockeiros do Olimpo (e continua a ser) e o Thurston é outra figura desta nossa transcendência dimensional. Ambos fazem parte daquela constelação impossível e ambos sabem que vieram para o ruído e espacialidade sónica. A imagem do JPJ é a mesma, a vacilar entre a maquinaria e o instrumento convencional. Mas agora parece dominar melhor as assimetrias e, ao decalcar diferentes camadas, consegue criar um dilúvio de experimentação. O Moore é um exímio executante de curvaturas muito peculiares. O som da Jaguar é todo dele.
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A segunda parte foi ainda mais assombrosa do que a primeira. Começou com o JPJ no piano (um pianista virtuoso, diga-se) para culminar numa típica ginástica de ruídos de Moore (o fantasma de Hendrix paira no ar) e numa inevitável queda no mais profundo devaneio físico. O Moore levanta-se, saca o jack, e experimenta a volúpia da eletricidade. Agora que o concerto acabou, muita gente para la fora, alguma cá dentro, e o JPJ arruma a tralha. Algumas pessoas falam com ele, mas a conversa acaba depressa.
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